20131226

Cartas para Sam | Lições de um avô sobre amor, perda e as dádivas da vida, Daniel Gottlieb

Tanta distância entre dois miúdos que tinham sido os melhores amigos. Teria sido mais fácil quando a odiava.

... é um facto que tu tens de lidar com o autismo. Mas tu não és o autismo.

... aprendi que não sou um tetraplégico. Eu tenho tetraplegia. Tu não és um autista. Tu tens autismo.

Era perfeitamente razoável querer ser salvo, mas o meu desejo não ia ser satisfeito de imediato. Foi só quando aceitei este facto, só quando parei de lutar, é que tive alguma paz.

A minha avó costuma dizer:
- Se fizeres os inimigos certos, terás uma boa vida.

.. se te esforçares em demasia para te livrares da dor, vais apenas demorar mais tempo a recuperar!

Tudo o que temos a fazer é não permitir que os nossos egos famintos exijam que a dor se vá embora em determinado dia e hora. Temos de ter fé de que a dor vai passar. Afinal de contas, a dor é uma emoção e nenhuma emoção se mantém para sempre.

... aquilo que tu representas é mais importante do que quem és.


- Vou dar-te um pedaço do Universo. A tua função é cuidares dele. Não é torná-lo melhor ou maior, apenas cuidar dele.

O mais importante não é evitar os problemas; o importante é aprender a lidar com eles.

Há tantos de nós, adultos, que sofremos porque estamos a tentar viver a vida que já tivemos ou à qual aspiramos. Naquele dia, tu lembraste-me que a vida é muito mais doce quando vivemos a que temos.

Num poema maravilhoso, chamado "Casa de Hóspedes", o poeta Sufi Rumi desafia-nos a darmos as boas-vindas a todas essas emoções, tristezas e alegrias no nosso ser. "Recebam-nas à porta com um sorriso e convidem-nas a entrar."

... há tanto que não comuniquei nem te poderei comunicar. Porque muitas das minhas emoções mais profundas estão para além das palavras.
O que te quero comunicar é o sentimento que invade o nosso coração quando olhamos fixamente nos olhos de alguém que há muito amamos. Quero transmitir a dança emocional de lágrimas e tristezas e intimidade - tudo para além das palavras.




... há um ensinamento judeu maravilhoso que nos diz que, antes de uma criança nascer, Deus concede-lhe a toda a sabedoria e conhecimento de que ele ou ela necessitam na vida. A seguir, Deus coloca o seu dedo nos lábios da criança e diz "Shhhh...", tornando aquele momento um pacto secreto entre a criança e Deus. A conclusão da história é que é por esta razão que todas as pessoas têm um vinco por cima do lábio superior. É a impressão digital de Deus.

- Acho que nós nascemos quadrados e morremos redondos.

... ser diferente não é um problema. É, simplesmente, ser diferente. Mas sentirmo-nos diferentes é problemático.

Ele viveu e amou.
Deixou o mundo da mesma forma que o encontrara.

Dar aos outros tem mais valor quando é feito discretamente e sem esperar nada em troca.

A dependência conduz ao ressentimento. É inevitável. Se as pessoas acham que não são capazes de sobreviver umas sem as outras, uma relação pode ser mais uma prisão do que uma parceria.

Sentir saudades é como uma pinta triste no meu coração.

... a minha diferença faz sobressair a bondade das pessoas. Quando utilizo um elevador, preciso que alguém carregue no botão. Quando estou num restaurante, preciso que alguém desembrulhe a minha palhinha. Quando deixo caie alguma coisa ao chão (o que é frequente), preciso que alguém apanhe. Há pesquisas que demonstram que fazer algo de bom por alguém impulsiona as endorfinas da pessoa, o anti-depressivo natural do corpo. As tuas diferenças farão com que as pessoas também te queiram ajudar; e ajudar-te vai ajudá-las a sentirem-se bem.

Ela falou-me da vida dela, do seu sofrimento, da sua perda e da dor insuportável. Não se preocupou com o meu colete, com o meu cateter ou com os meus tubos. Não se importava se eu podia andar ou dançar ou fazer amor.


... um dia, tu vais ouvir alguém dizer:
- Ele é autista.
Receio que (...) quando as pessoas olha para ti, não vêem o Sam. Vêem um diagnóstico. Um problema. Uma designação. Não uma pessoa.




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